05.08.2022
Do portal do DIARIO DE PERNAMBUCO, 04.08.22
Por Cler Santos - Estado de Minas
Retrato da fome que aflige 33 milhões de pessoas no Brasil, um
menino de 11 anos ligou para a Polícia Militar para pedir comida em
Santa Luzia na noite de terça-feira. A família é liderada por uma mãe
solo, que está desempregada, e mora no Bairro São Cosme, em Santa Luzia,
na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
No
áudio, o menino Miguel Barros diz que tem cinco irmãos e não há comida
em casa, só farinha e fubá. “Estou com fome. Nada pra comer, desde
cedo”, afirmou. Os policiais do 35° Batalhão da PM chegaram à casa
suspeitando de maus-tratos, mas encontraram a residência limpa e
arrumada e as crianças estavam bem.
A mãe,
Célia Arquimino Barros, de 46, não sabia que o menino tinha feito a
ligação. Ela disse que tenta driblar a fome dos filhos com água e fubá
mas não está conseguindo resolver o problema. Segundo Célia, que está
desempregada, o auxílio do Bolsa Família há muito tempo não é suficiente
para sustentá-los.
Após a ocorrência, os
policiais compraram uma cesta básica e outros mantimentos para que a
família pudesse comer. A história se espalhou e mobilizou outras
pessoas, que organizaram doações para Célia e seus filhos. Quem quiser,
pode encaminhar doações à família por meio do 35º Batalhão.
A
situação de Célia e seus filhos está longe de ser única. De acordo com
uma pesquisa divulgada em 8 de junho pela Rede Brasileira de Pesquisa em
Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan), 33 milhões de
pessoas passam fome no Brasil neste ano. O número equivale a 15% da
população do país e quase dobrou em relação a 2020, primeiro ano da
pandemia.
Em pouco mais de um ano, 14 milhões
de pessoas foram adicionadas à trágica conta dos que sofrem com a fome,
de acordo com os dados do Segundo Inquérito Nacional sobre Insegurança
Alimentar no Contexto da Pandemia de COVID-19 produzido pela Penssan,
coletados entre novembro de 2021 e abril último, nos perímetros urbano e
rural, em todas as cinco regiões do país. Em 2020, o número de pessoas
que passavam fome era de 19 milhões.
A
insegurança alimentar atinge mais da metade dos brasileiros: 125 milhões
ou 60% da população. Segundo a Escala Brasileira de Insegurança
Alimentar (Ebia), quem passa fome dentro de casa está sujeito a
insegurança alimentar grave. Em outros níveis, ela é considerada
moderada quando a qualidade da alimentação está comprometida e não há
comida o suficiente para todos da família. E é leve quando se consome
produtos de menor qualidade por medo de faltar comida.
De
acordo com o estudo, na média nacional, três em cada 10 famílias
enfrentam a incerteza quanto ao acesso à comida diariamente. No Sudeste,
onde Célia vive com seus filhos, 16% das pessoas estão nessa situação.
Uma tragédia ainda mais extensa nas regiões Norte e Nordeste do país,
onde os índices chegam, respectivamente, a 28% e 33% da população. No
Centro-Oeste são 16% e no Sul, 12%.
“Já não
fazem mais parte da realidade brasileira aquelas políticas públicas de
combate à pobreza e à miséria que, entre 2004 e 2013, reduziram a fome a
apenas 4,2% dos lares. As medidas tomadas pelo governo para contenção
da fome hoje são isoladas e insuficientes, diante de um cenário de alta
da inflação, sobretudo dos alimentos, do desemprego e da queda de renda
da população, com maior intensidade nos segmentos mais
vulnerabilizados”, avalia Renato Maluf, coordenador da Rede Penssan.
Apenas
quatro a cada 10 domicílios brasileiros têm pleno acesso à alimentação.
A pesquisa também revelou que 65% dos lares comandados por pessoas
pretas ou pardas apresentam insegurança alimentar em algum grau; das
casas com chefes de família brancos são 53,2%. Das famílias comandadas
por mães solo, 19,2% sofrem com a fome; 11,9% das comandadas por homens.
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Fonte: https://www.diariodepernambuco.com.br/noticia/brasil/2022/08/fome-que-virou-emergencia-no-190-expoe-tragedia-nacional.html
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