21 novembro 2023

As eleições na Argentina e os desafios do Mercosul, com o novo presidente Javier Milei

21.11.2023

Postado por Irineu Messias 

O economista ultra-direitista Javier Milei foi eleito Presidente da Argentina após uma eleição polarizada. Milei, que conquistou 55,7% dos votos, reverteu o resultado do primeiro turno e derrotou o ministro da Economia, Sergio Massa, que obteve 44,3% dos votos (UOL Notícias). Milei é conhecido por suas teorias libertárias e sua promessa de romper com o status quo, o que levou alguns a compará-lo a Donald Trump (NY Times).

Em relação ao Mercosul, o bloco enfrenta diversos desafios, entre os quais se destacam a fragmentação e a paralisia iminentes. A perspectiva de abertura irrestrita aos mercados, por exemplo, tem gerado debates e disputas (Valor Econômico). Além disso, o bloco precisa superar desafios para elevar sua importância econômica e política no cenário global (Mundo Educação).

Como o novo presidente da Argentina, Milei provavelmente terá que navegar por esses desafios no Mercosul e determinar seu próprio caminho na política regional.

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11 outubro 2023

Quem é o diverso e complexo eleitorado evangélico

11.10.20223

Do blog EXTRACLASSE

Por Marcelo Menna Barreto 

Subdivididos em diversas igrejas, representavam apenas 9% da população no início dos anos 1990; passaram para 15,6% no começo dos anos 2000 e, agora, ultrapassam de um terço da população Por Marcelo Menna Barreto 

Não é de agora que o crescente eleitorado evangélico é disputado por partidos e candidatos, sejam em pleitos municipais, estaduais ou federais. Se, no começo do século, quando representavam 15% da população já definiam eleições, hoje os evangélicos representam um terço dos brasileiros.

Que as estatísticas oficiais do Brasil estão defasadas, não é novidade. No entanto, enquanto não saem os números do Censo nacional promovido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), prognósticos extraoficiais dão conta de algo que é visto a olho nu: o movimento evangélico no país não para de crescer.

Os evangélicos, que se subdividem em diversas igrejas, representavam apenas 9% da população no início dos anos 1990; passaram para 15,6% no começo dos anos 2000 e, agora, no mínimo, segundo o Datafolha, passam de um terço da população.

Diante disso, nenhuma discussão séria sobre o país deve desconsiderar esse crescimento.

Para o doutor em Sociologia e pesquisador do Instituto de Estudos da Religião (Iser), o pastor batista Clemir Fernandes, o perfil do evangélico no Brasil é quase impossível de se identificar. “Primeiro, porque ele está em todas as classes sociais hoje”, pondera.

Do ponto de vista da racialidade, aponta haver “uma ampla maioria de evangélicos negros nas igrejas pentecostais”.

Inclusive, diz Clemir, estudos aventam a possibilidade de existir percentualmente maior número de negros no evangelismo do que nas próprias religiões de matriz africana

Do ponto de vista político, em 2018, José Eustáquio Diniz Alves, doutor em Demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence/IBGE), afirmava que os resultados eleitorais não tinham deixado dúvida naquele ano em “que Jair Bolsonaro foi eleito, fundamentalmente, com o voto evangélico, quando se considera a variável religião”.

Clemir, por outro lado, contemporiza. “Há uma discussão muito forte sobre voto evangélico, mas também se o voto chamado católico representa a religião propriamente dita.”

Entre pesquisadores, atesta Clemir, tem os que afirmam que ele representa o voto do cidadão médio brasileiro que, por identidade histórica, é católico. “Em geral, essa pessoa (católica) vai menos à igreja que o fiel evangélico”, completa.

Já para o pastor Filipe Gibran, “ninguém mais está dando conta de viver do jeito que as atuais grandes igrejas evangélicas são. Virou cinismo, hipocrisia. Brinco que se criou o evangélico não praticante”.

Ele, que é formado em Direito, Filosofia e Teologia, garante que, “na real”, são as igrejas neopentecostais que mais crescem.

“É um público de ‘crentes’ muito rotativo. Vai um dia na Universal, outro na Mundial. Vai na medida que tem um problema a ser solucionado, como algo mágico”, pontua ele, que é fundador de uma microigreja, como chama, A Comuna do Reino, de Belo Horizonte.

Quem são os jovens evangélicos 

Quem é o diverso e complexo eleitorado evangélico

A proliferação de igrejas, aliás, é uma característica muito forte. Em parte, grande responsável pelo avanço evangélico no país.

“Nas denominações são na ordem de milhares. Milhares”, acentua Clemir Fernandes.

Denominações são grupos de igrejas que atuam em redes. Há ainda, lembra o pesquisador, uma infinidade de igrejas evangélicas sem vínculo nenhum com uma ou outra denominação.

O pastor Filipe Gibran fala que integra um grupo que está vivendo um paradoxo. “Pensar novos paradigmas”, modelos ou padrões a seguir em sua fé e não ser visto como pauta para os meios de comunicação.

“Essa molecada nova que é a minha geração – tem um monte de gente como eu de trinta, trinta e poucos anos – está abrindo igrejas”, diz.

Lembrando que nos últimos dias 2, 3 e 4 de dezembro aconteceu, em São Paulo, um encontro chamado Novas Narrativas Evangélicas, Gibran lança um apelo: “Seria interessante para dar uma força para a gente que está na luta pensar pautas que reflitam que nem toda Igreja é conservadora”, assegura.

Exemplos não faltam. Além da microigreja de Gibran, outras se somam. É o caso da Igreja Batista do Caminho, do pastor Henrique Vieira, recém-eleito deputado federal pelo PSOL/RS, que se autointitula antifundamentalista; a Igreja Batista Alternativa, do pastor Rodolfo Capler, entre outras, e as igrejas evangélicas inclusivas, que militam entre a população LGBTQIA+, como a Acalanto, a do Movimento Espiritual Livre e a Comunidade Cristã Nova Esperança.

Já há pastores evangélicos assumidamente homossexuais e, em 2017, Alexya Salvador se tornou a primeira pastora transgênero da América Latina na Igreja da Comunidade Metropolitana (ICM), em São Paulo.

Na própria ICM, surgiu no ano passado a ICM Séfora’s, a primeira igreja trans do Brasil. Lá, a pastora Jacque Chanel, mulher transexual, acolhe fiéis trans, travestis e muitos moradores em situação de rua.

De vanguarda contra o feudalismo ao retrocesso contemporâneo

 Pastor batista Clemir Fernandes, doutor em Sociologia e pesquisador do Instituto de Estudos da Religião (Iser)  Foto: A.F. Rodrigues/Iser
 

Quem é o diverso e complexo eleitorado evangélico

Foram muitos os relatos de coerção eleitoral praticada por grandes lideranças evangélicas (em especial, pastores pentecostais e neopentecostais). Extrapolando o conservadorismo, na reta final do pleito, foi usada a estratégia do medo para convencer fiéis optarem pela candidatura de Bolsonaro. Os episódios resultaram até mesmo em uma carta de Lula aos evangélicos na reta final das eleições.

Tanto para Gibran quanto para Clemir, isso significa um paradoxo. Ambos denunciam pressões que envolveram, inclusive, o afastamento de pastores de suas igrejas que resistiram a ceder a estas práticas de voto de cabresto.

O protestantismo, lembra Clemir, surge de um ambiente histórico de “uma consciência libertada do jugo do senhor feudal”.

Ele assim traça um paralelo com a Igreja Católica para explicar um motivo da proliferação dos evangélicos.

Segundo o pesquisador do Iser, enquanto o catolicismo seria “filho da antiguidade”, o protestantismo é “filho da modernidade”. “Não existe protestantismo sem que antes tenha tido o Renascimento, a redescoberta das línguas, a leitura dos textos originais, a compreensão do mundo sob outra ordem. Os três ‘R’: Renascimento, Reforma Protestante e Revolução Francesa”, elenca.

Enquanto o catolicismo apresenta uma estrutura piramidal, fruto da cultura do Império Romano, Clemir vê no chamado, a grosso modo, protestantismo histórico a abertura para a diversidade.

“Ele já nasce diverso porque a diversidade não é só porque Lutero disse que a pessoa está livre para ler e interpretar os textos sagrados; é porque já não havia mais possibilidade de alguém querer interpretar os textos sozinho. A consciência tinha sido libertada. A consciência filosófica e política que se liberta do senhor feudal, do mandatário, do absolutista”, narra.

Historiadores não negam. Sem a Reforma protestante, os ideais iluministas seriam abafados pela opressão do catolicismo da época. Os ideais de liberdade e igualdade da Revolução Francesa teriam que esperar.

Mas, de um tempo para cá, em especial nas grandes denominações, vê-se uma espécie de retrocesso.

Clemir diz que – apesar do embasamento ser em pesquisas de opinião a respeito do voto neste ano – os cerca de 35% de evangélicos que não se dobraram à pressão das lideranças religiosas para a reeleição de Bolsonaro é sinal de que “houve resistência”.

Ele, que chegou a dizer que o voto de obediência de um sacerdote católico ao seu bispo, um ser humano, remonta o mundo antigo, “onde as relações de vassalagem e autoritarismo eram aceitas como tal”, é um conceito impossível de um protestante aceitar, concorda com o questionamento da reportagem de Extra Classe: “Sim, há um paradoxo (na campanha pró-Bolsonaro das lideranças evangélicas). Isso (a opção por Bolsonaro) poderia ter sido muito mais diluído”.

Um breve histórico

Clemir Fernandes afirma que os evangélicos no Brasil estão em três grandes tipologias comumente usadas: protestantismo histórico, pentecostalismo e neopentecostalismo.

Para ele, isso resume de uma maneira até grotesca os autoproclamados evangélicos. “São definições aproximadas, mas que nunca dão conta do todo; um nome imposto pela mídia nos anos 1980. Antes disso, não existia.”

Os evangélicos históricos seriam aqueles que surgiram diretamente da reforma protestante no século 16 ou que são descendentes imediatas desse movimento. “Luteranos, presbiterianos, batistas, metodistas, congregacionais, que é uma outra denominação, são os cinco blocos vinculados”, descreve.

Tempos atrás, recorda ele, o IBGE também chamava de Protestantismo de Missão, porque essas igrejas aportaram no Brasil em projetos missionários da Europa e dos Estados Unidos. Depois, vem o pentecostalismo chamado de clássico, o primeiro pentecostalismo. Sua matriz no Brasil se iniciou com a Congregação Cristã no Brasil (CCB) e a Assembleia de Deus (AD). A Assembleia de Deus, explica Clemir, tem origem na Suécia. Conforme ele, os primeiros missionários “na origem eram batistas. Nos Estados Unidos tiveram a experiência de ‘falar em línguas’, como eles dizem”.

Os primeiros missionários da AD, os sueco-americanos Gunnar Vingrem e Daniel Berg, aportaram, em 1911, em Belém do Pará, onde fundaram a primeira igreja.

Muito importante em São Paulo, especialmente onde tem a sua sede, a CCB foi fundada pelo italiano Luigi Francescon. Ele, da Itália, foi para os Estados Unidos. Lá, relata Clemir, teve uma experiência de conversão pentecostal, veio para o Paraná, onde fundou sua igreja em 1910, que, após, se fortaleceu em São Paulo.

Expoentes do segundo pentecostalismo, aponta o pesquisador do Iser, surgem nos anos 1960. Entre elas, estão Deus é Amor e Igreja do Evangelho Quadrangular.

Já o neopentecostalismo começa a proliferar nas décadas de 1970 e 1980, quando entram em cena igrejas como a Universal do Reino de Deus, Igreja Internacional da Graça de Deus, Renascer em Cristo, Igreja Mundial do Poder de Deus e, com ela, a chamada Teologia da Prosperidade.

“Não é o pentecostalismo clássico que tinha a ênfase de falar em línguas e na crença das curas divinas, mas que tem ênfase na utilização dos meios de comunicação de massas, rádio, TVs”, esclarece Clemir. Interessante que nesse histórico das igrejas evangélicas no Brasil, como se vê na “galera” do pastor Gibran, uma espécie de sincretismo também começa a acontecer. “Eu sei que é difícil, mas nunca dá para colocar em chaves fechadas. Hoje vai se encontrar muitas igrejas do protestantismo histórico influenciadas pela Teologia da Libertação católica e vai encontrar igrejas neopentecostais que se tornam neocalvinistas, que abrem mão e criticam a teologia da prosperidade. O mundo evangélico é muito complicado de se entender a olho nu”, ri.

Um exemplo é o pentecostalismo de um Silas Malafaia, que mudou muito em relação ao que é o pentecostalismo clássico. Hoje, ele  se influencia também de experiências neopentecostais e usa fortemente os meios de comunicação e adota a Teologia da Prosperidade.

A Teologia da Prosperidade é uma corrente doutrinal que tem por princípio que o cristão tem que ser vitorioso em todas as áreas de sua vida: espiritual, física e financeira. Apesar de ganhar proeminência nos Estados Unidos nos anos 1950, ela se fortificou no tele-evangelismo dos anos 1980.

Números que impressionam

Devido aos adiamentos promovidos pelo governo Bolsonaro na realização do Censo nacional, o Iser considera que uma pesquisa do Instituto Datafolha, publicada em 2020, é – por enquanto – a fonte mais qualificada e recente para se avaliar o quadro atual das religiões no Brasil.

Se nos dados defasados do IBGE, em 2010, os evangélicos representavam 22,89% da população brasileira, o estudo do Datafolha apontou um índice estimado de 31%.

Levando em consideração a margem de erro de 2% para mais ou para menos, os dados coletados em 2019 não descartam um crescimento de 10 pontos percentuais.

Para se ter uma ideia desse movimento que apresenta um significativo crescimento no país – a ponto de ser visto como fator de decisão em vários pleitos nacionais –, a população evangélica teve um aumento estimado de 49% entre os anos de 2010 e 2019.

Quase que dobrando em nove anos, os evangélicos, dentro das estimativas atuais, tiveram entre si um acréscimo que praticamente representa 10% de toda a população brasileira prognosticada em 2019.

Foi um salto de 21,5 milhões de pessoas, diante dos dados do IBGE de 2010. Na ocasião, os números consolidados do Censo registravam 43,6 milhões de evangélicos no país.

Frente à hipótese apontada de 65,1 milhões de indivíduos dessa vertente do cristianismo em uma população brasileira estimada em 210,1 milhões, são números que impressionam.


NOTA: Leia a matéria completa no blog EXTRACLASSE 

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Fonte:https://www.extraclasse.org.br/politica/2022/12/quem-e-o-diverso-e-complexo-eleitorado-dos-evangelicos/?utm_source=News+EC+13+dez.+evangelicos&utm_medium=News+EC+13+dez.+evangelicos&utm_campaign=News+EC+13+dez.+evangelicos&utm_id=News+EC+13+dez.+evangelicos&utm_term=News+EC+13+dez.+evangelicos&utm_content=evangelicos

22 setembro 2023

Mauro Cid, não se esqueça dos que podem voltar a tocar o apito de cachorro

 22.09.2023

Do portal BRASIL247, 21.09.23

Por Moisés Mendes

O coronel delator conhece disseminadores e financiadores do golpe que fazem parte de uma categoria de fascistas ainda fora do alcance do sistema de Justiça

Um mané do 8 de janeiro, inconformado com o uso de tornozeleira, já ficou famoso com o vídeo em que ataca o Supremo e se queixa da falta de libido e até de forças para rezar. Considera-se um perseguido.

“Podem vir pra cima de mim”, avisa o sujeito. O que o pequeno golpista diz sem volteios e sutilezas é o que muitos grandes golpistas disseram depois da eleição e antes do 8 de janeiro às vezes com alguns cuidados.

O mané chorão do vídeo é apenas um dos ouvintes do apito de cachorro. Os golpistas que faziam malabarismos para atiçar a turba eram os que tocavam o apito.  

Generais, empresários e até um ministro do TCU tocaram o apito para a cachorrada. Esses não vão produzir vídeos, como o mané da tornozeleira, porque nem tornozeleira usam. Ainda não.

Um tocador do apito do golpe pediu aos fiéis que mantivessem a fé. Outro foi para um restaurante de beira de estrada para dizer que não desistissem porque ainda dava. O apito informava apenas que ainda dava.

Tudo acontecia depois da eleição de Lula. Um tocador de apito mais descarado avisava que havia forte movimento na caserna, com desenlace imprevisível para a nação. Mas Bolsonaro tinha o controle da situação. Acovardado no Alvorada, mas com o controle.

Um famoso líder empresarial do agro é pop, do tempo da ditadura, chamou a manezada em vídeo para que acampasse na frente dos quartéis.

Esse foi explícito, direto, por confiar em quem havia dado a ordem para a convocação e ter certeza do golpe. Todos os tocadores de apito atacavam o STF, as urnas e a eleição e diziam temer o comunismo.

Mas muitos bom de bico não tocaram o apito, apesar de convocados pelos militares e por Bolsonaro. Esse podem contar um dia detalhes da ordem que receberam.

Mauro Cid conhece os que tocaram e financiaram apitos e os que se negaram a tocar. Os que se recusaram a chamar a turba serão convidados, quando a democracia for restabelecida por completo, a falar do que sabem. Por que não tocaram o apito do cachorro?

Por que não mandaram mensagens de zap aos tios golpistas? Por que não foram para churrascarias de beira de estrada, fantasiados de verde e amarelo, para dizer que ainda dava?

O país merece ter acesso às revelações dos que foram convocados, negaram-se a tocar o apito, mas continuam por aí, podendo ir para um lado ou outro, dependendo do que acontecer mais adiante.

Muitos dos que não apitaram para a cachorrada continuam, mesmo que ainda vacilantes, abertos à possibilidade de um dia apitar. Outros não apitaram e nunca apitarão.

O sujeito com tornozeleira, que não reza e nem transa mais, é o mané sequelado e revoltado, talvez de uma maioria que não se submete à resignação. Mas é um mané. Ele quer ouvir o apito de novo.

Os que tocavam o apito, principalmente os que têm poder econômico, estão quietos. Alguns terceirizavam suas missões com apitadores-laranjas.

Outros já disseram, depois de derrotados, que estão no mesmo avião com Lula. Tenha a coragem de delatá-los, Mauro Cid. Diga quem são e como integravam a copa e a cozinha de Bolsonaro.

A cachorrada do 8 de janeiro não é o grande perigo para a democracia. Os que continuam nos ameaçando são os que se encolheram mas estão, ainda impunes, com o apito na gaveta.

São grandes empresários fascistas, jornalistas, blogueiros, influencers e picaretas em geral misturados a civis e fardados do Planalto.

Os que tocaram o apito continuam orando e transando numa boa, enquanto os manés-banzés mais sensíveis se desesperam. Vá em frente, Mauro Cid.

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Fonte:https://www.brasil247.com/blog/mauro-cid-nao-se-esqueca-dos-que-podem-voltar-a-tocar-o-apito-de-cachorro

19 setembro 2023

Educação inclusiva para surdos: uma estratégia pedagógica inclusiva e não apenas integrativa

19.09.2023

Postado por Irineu Messias

A educação inclusiva é um direito fundamental de todos os cidadãos, inclusive das pessoas com deficiência. No Brasil, a Constituição Federal de 1988, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996 e a Lei Brasileira de Libras (Libras) de 2002 garantem o direito à educação inclusiva para todos os alunos, independentemente de sua condição.

No caso da educação de surdos, a inclusão escolar deve ser baseada em uma estratégia pedagógica inclusiva, e não apenas integrativa. A integração escolar é um modelo que busca inserir os alunos com deficiência em classes regulares, sem considerar suas necessidades específicas. Já a inclusão escolar é um modelo que busca atender às necessidades de todos os alunos, incluindo os alunos com deficiência, através de uma educação que seja acessível e equitativa.

Uma estratégia pedagógica inclusiva para surdos deve considerar os seguintes aspectos:

  • Reconhecimento da língua de sinais: a língua de sinais é a língua natural dos surdos. O reconhecimento da língua de sinais como língua oficial da comunidade surda é essencial para a inclusão escolar dos surdos.
  • Educação bilíngue: a educação bilíngue é um modelo de educação que oferece aos surdos o ensino da língua de sinais e da língua portuguesa, na modalidade escrita. A educação bilíngue é a melhor forma de garantir o desenvolvimento pleno dos surdos, tanto na linguagem quanto no conhecimento.
  • Adaptações curriculares: os alunos surdos podem precisar de adaptações curriculares para acessar o conteúdo escolar. Essas adaptações podem incluir recursos visuais, tecnologias assistivas e modificações no currículo.
  • Formação de professores: os professores devem ser capacitados para atender às necessidades dos alunos surdos. A formação de professores deve incluir o ensino da língua de sinais e de metodologias de ensino inclusivas.

A inclusão escolar dos surdos é um desafio, mas é um desafio que pode ser superado. Através de uma estratégia pedagógica inclusiva, os alunos surdos podem ter acesso a uma educação de qualidade, que lhes permita desenvolver seu potencial pleno e participar da sociedade de forma plena e igualitária.

Alguns exemplos de práticas pedagógicas inclusivas para surdos:

  • Uso de recursos visuais: o uso de recursos visuais, como imagens, gráficos e vídeos, pode ajudar os alunos surdos a compreender o conteúdo escolar.
  • Aplicação de tecnologias assistivas: as tecnologias assistivas, como aparelhos auditivos, implantes cocleares e softwares de tradução, podem ajudar os alunos surdos a acessar o conteúdo escolar.
  • Modificações no currículo: as modificações no currículo podem incluir a redução da carga horária de algumas disciplinas, a adaptação do conteúdo para a língua de sinais e a inclusão de atividades extracurriculares voltadas para os surdos.
  • Atividades colaborativas: as atividades colaborativas podem ajudar os alunos surdos a desenvolver suas habilidades sociais e de comunicação.

Através dessas práticas, os professores podem criar um ambiente de aprendizagem inclusivo, onde todos os alunos, incluindo os surdos, possam aprender e se desenvolver.

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01 agosto 2023

Agostinho de Hipona: A Filosofia Grega e o Pensamento Cristão

01.08.2023

Publicado por Irineu Messias


Introdução:

A relação entre a filosofia grega e o pensamento cristão tem sido um tema de discussão ao longo da história. Agostinho de Hipona, um proeminente teólogo e filósofo cristão do século V, desempenhou um papel fundamental ao explorar essa relação. Neste artigo, analisaremos como Agostinho abordou a agregação da filosofia grega ao pensamento cristão, considerando os pontos de convergência e divergência entre as doutrinas cristãs e os postulados filosóficos gregos.

1. Contextualizando o Pensamento de Agostinho:

Agostinho de Hipona nasceu em 354 d.C. na região norte da África e foi educado em uma família cristã. Ele se converteu ao cristianismo em 386 d.C. e se tornou um bispo e teólogo influente. Suas obras mais conhecidas incluem "Confissões" e "A Cidade de Deus". Agostinho é considerado um dos principais pensadores da tradição cristã ocidental e sua influência pode ser vista em áreas como teologia, filosofia, literatura e política.

2. A Relação entre Fé e Razão:

A tensão entre fé e razão tem sido uma questão importante na tradição cristã. Agostinho acreditava que a razão era importante para entender a fé, mas que a fé era superior à razão. Ele argumentava que a razão poderia levar as pessoas a Deus, mas que a fé era necessária para uma compreensão completa de Deus e da salvação.

3. A Filosofia Grega e o Pensamento Cristão:

Agostinho identificou as principais correntes filosóficas gregas, como o platonismo e o estoicismo, e comparou suas doutrinas com as fundamentais do cristianismo. Ele encontrou pontos de convergência entre essas tradições de pensamento, como a crença em uma realidade transcendental e a importância da virtude. No entanto, ele também reconheceu as diferenças fundamentais entre essas duas tradições.

4. A Contribuição de Agostinho:

Agostinho incorporou elementos da filosofia grega em sua teologia. Por exemplo, ele usou conceitos platônicos como a ideia de que o mundo material é imperfeito para explicar o pecado e a queda da humanidade. Ele também usou conceitos estoicos como a ideia de que a virtude é o caminho para a felicidade para explicar a importância da moralidade.

5. Os Limites da Agregação:

Apesar de reconhecer os pontos de convergência entre a filosofia grega e o pensamento cristão, Agostinho também apontou as diferenças fundamentais entre essas duas tradições. Ele criticou os filósofos gregos por não terem uma compreensão completa da verdade divina e por não terem acesso à revelação divina. Ele argumentava que a verdadeira sabedoria só poderia ser encontrada nas escrituras sagradas.

6. O Legado de Agostinho:

Agostinho deixou um legado duradouro na relação entre filosofia e teologia cristã. Sua abordagem equilibrada permitiu a incorporação dos postulados filosóficos gregos sem comprometer as doutrinas fundamentais do cristianismo. Seu trabalho continua a influenciar o diálogo interdisciplinar entre fé e razão, fornecendo uma base sólida para a compreensão e aprofundamento da fé cristã.

Conclusão:

Agostinho de Hipona desempenhou um papel significativo na agregação da filosofia grega ao pensamento cristão. Sua abordagem equilibrada permitiu a incorporação dos postulados filosóficos gregos sem comprometer as doutrinas fundamentais do cristianismo. Ao mesmo tempo, Agostinho reconheceu os limites e as diferenças entre essas duas tradições de pensamento, destacando a supremacia da fé sobre a razão. O legado de Agostinho continua a influenciar o diálogo entre filosofia e teologia, fornecendo uma base sólida para a compreensão e aprofundamento da fé cristã.

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31 julho 2023

Robert Oppenhheimer,o Pai da Bomba Atômica

31.07.2023

Publicado por Irineu Messias

Julius Robert Oppenheimer foi um físico teórico americano que liderou a equipe de cientistas que desenvolveu a primeira bomba atômica durante a Segunda Guerra Mundial. Nascido em Nova York em 22 de abril de 1904, Oppenheimer estudou em Harvard e na Universidade de Cambridge antes de se tornar professor de física na Universidade da Califórnia em Berkeley.

Em 1942, Oppenheimer foi recrutado pelo governo dos Estados Unidos para liderar o Projeto Manhattan, um esforço secreto para desenvolver uma arma nuclear. Ele supervisionou a construção do laboratório em Los Alamos, Novo México, onde a bomba foi desenvolvida.

A bomba atômica foi testada com sucesso em 16 de julho de 1945, em um local no deserto do Novo México conhecido como Trinity. O sucesso do teste levou à decisão de usar a bomba contra o Japão. Em 6 de agosto de 1945, uma bomba atômica foi lançada sobre a cidade japonesa de Hiroshima, matando mais de 100.000 pessoas instantaneamente. Três dias depois, uma segunda bomba foi lançada sobre Nagasaki, matando mais de 70.000 pessoas.

"Sabíamos que o mundo não seria o mesmo. Algumas
pessoas riram, algumas pessoas choraram, a maioria das pessoas ficou em silêncio."
Oppenheimer

Após a guerra, Oppenheimer se tornou um defensor do controle internacional de armas nucleares e se opôs ao desenvolvimento da bomba de hidrogênio. Ele também se envolveu em questões políticas e sociais, apoiando o movimento pelos direitos civis e se opondo à Guerra do Vietnã.

Em 1954, Oppenheimer foi acusado de ser um simpatizante comunista e teve sua autorização de segurança revogada pelo governo dos Estados Unidos. Embora tenha sido absolvido das acusações, sua carreira científica foi prejudicada e ele se aposentou em 1966.

Julius Robert Oppenheimer é lembrado como um dos cientistas mais importantes do século XX, mas também é controverso por seu papel no desenvolvimento da bomba atômica e suas opiniões políticas. Sua vida e legado continuam a ser objeto de debate e estudo até hoje.

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26 julho 2023

Locke, Rosseau e Hobbles: O papel do Estado

26.07.2023

Publicado por Irineu Messias

Os filósofos políticos John Locke, Jean-Jacques Rousseau e Thomas Hobbes têm visões diferentes sobre o Estado e o papel que ele deve desempenhar na sociedade. 

John Locke defende a ideia de que o Estado deve ser limitado e que os indivíduos têm direitos naturais inalienáveis, como a vida, a liberdade e a propriedade. Ele argumenta que o governo deve ser formado por um contrato social entre os cidadãos e as autoridades, e que o poder político deve ser exercido com o consentimento dos governados. Para Locke, o papel do Estado é garantir a proteção desses direitos individuais e promover a justiça e a igualdade na sociedade.

Jean-Jacques Rousseau, por sua vez, defende uma visão mais coletivista do Estado. Ele argumenta que a soberania reside no povo como um todo, e não em indivíduos ou grupos específicos. Ele defende a ideia de que o Estado deve ser formado por um contrato social entre os cidadãos, em que cada indivíduo renuncia aos seus interesses pessoais em favor do bem comum. Para Rousseau, o papel do Estado é promover a liberdade e a igualdade entre os cidadãos, garantindo a proteção dos direitos coletivos da sociedade.

Por fim, Thomas Hobbes tem uma visão mais pessimista da natureza humana e do papel do Estado na sociedade. Ele argumenta que os indivíduos são naturalmente egoístas e violentos, e que a vida em sociedade só é possível por meio da criação de um Estado forte e centralizado. Para Hobbes, o papel do Estado é garantir a ordem e a segurança da sociedade, exercendo um poder absoluto sobre os cidadãos. Ele defende a ideia de que o Estado deve ter o monopólio do uso legítimo da força, e que os cidadãos devem renunciar aos seus direitos individuais em favor da proteção do Estado.

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Ciência e Ciência Política, conceitos

26.07.2023
Publicado por Irineu Messias


A Ciência pode ser definida como um conjunto de conhecimentos sistemáticos e organizados, obtidos por meio da observação, experimentação e análise crítica. A Ciência busca compreender os fenômenos naturais e sociais de forma objetiva e rigorosa, utilizando métodos e técnicas específicas para coletar e interpretar dados. Dessa forma, a Ciência Política utiliza os mesmos princípios e métodos da ciência para estudar a política, o poder e o governo. Ela busca compreender a realidade política por meio da observação empírica e da análise crítica, utilizando conceitos e teorias específicas para explicar os fenômenos políticos. A Ciência Política, portanto, é uma disciplina científica que busca fornecer uma compreensão mais profunda e rigorosa da política e contribuir para a melhoria da qualidade da democracia e do governo.


A Ciência Política é uma disciplina acadêmica que estuda a política, o poder e o governo. Ela busca compreender as relações de poder que existem na sociedade e como elas influenciam a tomada de decisões políticas. Entre os principais conceitos estudados estão: Estado, democracia, cidadania, partidos políticos, eleições, sistemas eleitorais, instituições políticas, entre outros. A Ciência Política também analisa as diferentes teorias políticas e ideologias que orientam as ações dos atores políticos, bem como os processos de mudança política e transformação social.

Outro conceito importante na Ciência Política é o de poder. A disciplina busca entender como o poder é distribuído na sociedade e como ele é exercido pelos diferentes atores políticos. A análise do poder envolve questões como a dominação, a autoridade, a legitimidade e a resistência. A Ciência Política também estuda a democracia, que é um sistema político baseado na participação popular e na proteção dos direitos individuais e coletivos. A democracia é vista como um ideal a ser alcançado, mas também como um processo em constante evolução e aprimoramento. Por fim, a Ciência Política busca contribuir para o debate público e para a formação de cidadãos críticos e engajados politicamente.

Além disso, a Ciência Política busca entender como as políticas públicas são formuladas, implementadas e avaliadas, bem como o papel dos diferentes atores políticos nesses processos. Ela também estuda as relações internacionais e as dinâmicas políticas entre os Estados. A Ciência Política é uma disciplina interdisciplinar, que se relaciona com outras áreas do conhecimento, como a Sociologia, a Economia, a História, o Direito e a Filosofia. Seu objetivo é fornecer uma compreensão mais profunda e crítica da política e contribuir para a melhoria da qualidade da democracia e do governo.
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21 julho 2023

Quem era Jean-Jacques Rousseau ?

21.07.2023

Publicado por Irineu Messias

Jean-Jacques Rousseau foi um dos filósofos mais influentes do século XVIII. Nascido em Genebra, Suíça, em 1712, ele foi um pensador político, escritor e compositor. Sua obra teve um grande impacto na Revolução Francesa e na história da filosofia.

Rousseau é conhecido principalmente por suas ideias sobre a natureza humana e a sociedade. Ele acreditava que o ser humano é naturalmente bom, mas é corrompido pela sociedade. Para Rousseau, a sociedade é a fonte de todas as desigualdades e injustiças. Ele argumentou que a propriedade privada é a raiz de todos os males sociais e que a verdadeira liberdade só pode ser alcançada em uma sociedade igualitária.

Além de suas ideias políticas, Rousseau também teve um impacto significativo na literatura e na música. Ele escreveu várias obras importantes, incluindo "O Contrato Social" e "Emílio, ou Da Educação". Ele também compôs música, incluindo óperas e canções.

Apesar de sua influência duradoura, Rousseau teve uma vida pessoal tumultuada. Ele teve cinco filhos com sua amante, Thérèse Levasseur, e os abandonou em um orfanato. Ele também teve muitos conflitos com outros filósofos, incluindo Voltaire e Diderot.

Apesar de suas falhas pessoais, as ideias de Rousseau continuam a ser estudadas e debatidas até hoje. Sua visão da natureza humana e da sociedade ainda é relevante e influente no mundo moderno. Seu legado como filósofo, escritor e compositor é inegável e sua contribuição para o pensamento ocidental é inestimável.

Em resumo, Jean-Jacques Rousseau foi um dos filósofos mais importantes da história. Suas ideias sobre a natureza humana e a sociedade tiveram um impacto duradouro na política, na literatura e na música. Apesar de suas falhas pessoais, seu legado como pensador continua a ser estudado e debatido até hoje.

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História e os vários tipos de socialismo,resumo

21.07.2023

Publicado por Irineu Messias

O socialismo é uma doutrina política e econômica que surgiu no final do século XVIII, na Europa, em contraposição às iniquidades sociais produzidas em larga escala pelo fenômeno da Revolução Industrial. O socialismo defende a reformulação da sociedade capitalista, integrada-a numa sociedade justa e igualitária. Existem vários tipos de socialismo, que se diferenciam em suas características e propostas. Alguns tipos desses são:

  • Socialismo utópico: propõe a construção de uma sociedade mais igualitária por meio de reformas e mudanças graduais, sem a necessidade de uma revolução. Exemplos de pensadores utópicos são Robert Owen e Charles Fourier.
  • Socialismo científico: corrente de pensamento protagonizada por Karl Marx e Friedrich Engels. Propõe uma compreensão científica da história e da sociedade, e defende a tomada do poder pelos trabalhadores por meio de uma revolução socialista. O socialismo científico é a base teórica do socialismo moderno.
  • Socialismo real: refere-se aos regimes socialistas que existiram no mundo, como a União Soviética, China, Cuba, entre outros. Esses regimes foram baseados nas ideias do socialismo científico, mas muitas vezes se afastaram dessas ideias em sua prática política e econômica.

Em resumo, o socialismo é uma doutrina política e econômica que surgiu no final do século XVIII, e que defende a transformação da sociedade capitalista em uma sociedade justa e igualitária. Existem vários tipos de socialismo, que se diferenciam em suas características e propostas, como o socialismo utópico, o socialismo científico e o socialismo real.

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11 julho 2023

JULIANO SPYER: “Igrejas evangélicas são estado de bem-estar social informal”

11.07.2023
Do portal INSTITUTO HUMANITAS UNISINOS - ADITAL, 09.10.2020
Por Bruno Lupion


Em entrevista à DW Brasil, antropólogo Juliano Spyer aponta que elite brasileira tem uma visão "estereotipada e muito arrogante" sobre a realidade dos evangélicos, que podem superar número de católicos no país em 2032.

A entrevista é de Bruno Lupion, publicada por Deutsche Welle, 08-10-2020.

O Brasil vive o maior processo de transição religiosa do mundo, com sua população migrando de forma acelerada do catolicismo para o cristianismo evangélico. Se em 1970 os evangélicos representavam 5% dos brasileiros, hoje são cerca de um terço e nesse ritmo, em 2032, serão a maioria.

Essa transformação tem impacto nas instituições e na vida das pessoas, especialmente dos mais pobres, mas é ainda pouco compreendida pela elite do país, afirma o antropólogo Juliano Spyer, autor do livro Povo de Deus: Quem são os evangélicos e por que eles importam, que chega às livrarias nesta semana pela Geração Editorial, com apresentação de Caetano Veloso.

A ideia da obra surgiu quando Spyer morava em uma vila de trabalhadores na periferia de Salvador para a pesquisa de campo de seu doutorado, sobre uso das mídias sociais pelas classes baixas. Lá, fez amizade com famílias evangélicas, passou a frequentar cultos e percebeu o impacto prático que as relações construídas na igreja tinham na vida de pessoas vulneráveis e sem acesso a direitos e serviços públicos.

"Essas igrejas produzem um serviço que o Estado não dá conta ou para os quais a sociedade brasileira não se mobiliza. (…) Há uma rede de ajuda mútua: quando o marido fica desempregado e se arruma emprego, o filho se envolve com drogas e encontra um lugar para ser tratado, o marido que batia na mulher encontra caminhos para negociar uma harmonia em casa. É um estado de bem-estar social informal”, diz.

Spyer afirma que a elite brasileira tem uma visão "estereotipada, pouco esclarecida e muito arrogante” sobre os evangélicos, que se reflete também em parte da classe política, inclusive na centro-esquerda. Enquanto isso, o presidente Jair Bolsonaro, que teve entre os evangélicos sua maior vantagem eleitoral em 2018, adota uma estratégia "oportunista” de aproximação desse grupo, sinalizando que "se as outras pessoas não se interessam por eles, ele sim se interessa", diz o antropólogo.

Eis a entrevista.

Como foi morar em uma vila na periferia de Salvador de abril de 2013 a agosto de 2014 durante o doutorado?

Sou um brasileiro branco, de classe média, ex-estudante da USP, a quem foi dada a oportunidade de fazer um programa de doutorado [no Reino Unido]. Precisava escolher um lugar [para a pesquisa de campo] e fui para um povoado no limite da área metropolitana de Salvador, em uma vila de trabalhadores na Costa dos Coqueiros. Tive a oportunidade de encontrar um país que, nos documentos, é o meu, mas no qual eu nunca tinha vivido. A antropóloga americana Cláudia Fonseca, que vive no Brasil, disse que a divisão racial e por classe no Brasil é semelhante à da África do Sul no Apartheid, mas se mantém e é silenciosa.

E por que decidiu pesquisar os evangélicos?

A antropologia do cristianismo é um dos principais temas da antropologia contemporânea. O Brasil pobre, principalmente na área urbana, é predominantemente evangélico. Não existe no mundo uma transição religiosa acontecendo como a do nosso país, que é o maior país católico do mundo e está se tornando um dos maiores países protestantes do mundo.

Em 1970, havia 5% de evangélicos, incluindo protestantes. Em 2000 eram 22%, e no ano passado era um terço da população acima de 16 anos. Os estatísticos preveem que em 2032 o cristianismo evangélico se tornará a religião predominante no país.

Isso afeta todo mundo. Por um lado, muitas igrejas evangélicas se deram conta que para influenciar nas pautas de comportamento elas precisam se envolver com o governo. Mas existe um lado B, que é o efeito da igreja na vida das pessoas. [Na vila em Salvador] a gente convivia com a violência doméstica, ouvia gritos, e não adiantava chamar a polícia. Uma das primeiras consequências da conversão [ao cristianismo evangélico] era acabar com isso. A conversão também é um ato inteligente, e não apenas de fé, que traz benefícios à vida do brasileiro mais pobre.

No final dos dezoito meses, descobri que várias das pessoas da igreja evangélica com quem me relacionava haviam participado de organizações criminosas e sido presas. E eram ótimos pais, esforçados, generosos. É a principal maneira para reinserir na sociedade pessoas que estiveram envolvidas com violência.

Sem desprezar os muitos problemas de ordem moral, temos que considerar o quanto essas igrejas produzem um serviço que o Estado não dá conta ou para os quais a sociedade brasileira não se mobiliza. A motivação desse livro é falar, para as pessoas do meu círculo, que existe muito mais complexidade e valores a serem levados em conta em relação a esse fenômeno.

No mapa das religiões, o que é o cristianismo evangélico?

Evangélico é um termo disputado. Precisamos usá-lo porque eles se reconhecem dessa forma entre si e em relação aos outros. Agora, se você vai ao Nordeste, evangélico é todo mundo que é protestante, inclusive do protestantismo histórico, como os luteranos e os calvinistas. No Sul, esses grupos se diferenciam. Mas há um grau de convergência, são todos protestantes e vieram do mesmo movimento contestador do Lutero.

São predominantemente conservadores no âmbito moral, mas há igrejas que relativizam isso, como a Bola de Neve. O [ginasta] Diego Hypólito, por exemplo, atleta brasileiro nas Olimpíadas, se assumiu homossexual e é dessa igreja. O que diferencia o pentecostalismo é ser uma religiosidade feita pelo povo, comunicada de uma maneira simples e que trata das questões deles do dia a dia. Isso se espalhou como fogo dentro do Brasil popular.

Por que o cristianismo evangélico teve tanta aderência nas camadas populares?

Segundo o antropólogo Gilberto Velho, o principal fenômeno social brasileiro do século 20 é a migração de nordestinos em massa para as capitais ao Sul. Ao chegar nessas cidades do Sul, eles ocuparam regiões periféricas, desprovidas de tudo, inclusive de Igreja Católica. São originalmente católicos, mas não têm garantias de trabalho, transporte, vivem em condições ruins de moradia, se desprendem das raízes familiares.

E nessa igreja você dá voz à sua religiosidade profunda, é ouvido enquanto pessoa, não como número ou funcionário, põe para fora suas inquietações, frustrações e dores. Além disso, há uma rede de ajuda mútua: quando o marido fica desempregado e se arruma emprego, o filho se envolve com drogas e encontra um lugar para ser tratado, o marido que batia na mulher encontra caminhos para negociar uma harmonia em casa. É um estado de bem-estar social informal.

Esse cristianismo tem consequência direta na estabilização da vida de pessoas em situação de vulnerabilidade. Mas hoje você encontra também igrejas evangélicas em bairros mais luxuosos das capitais.

Como as classes média-alta e alta em geral veem os evangélicos?

Têm uma visão estereotipada, pouco esclarecida e muito arrogante. Veem ou como o evangélico do mal, o sujeito manipulador da fé que ganha dinheiro e se usa da ingenuidade popular, ou como o evangélico do bem, o coitadinho que precisou se apegar a isso. Mesmo quando se tem uma visão benigna, é prepotente.

Isso se reflete na cobertura da imprensa sobre os evangélicos?

Há uma disputa pelo acesso a camadas populares entre os grupos que controlam a comunicação no Brasil, de grupos de um mundo mais aristocrático, católico, em relação a grupos pentecostais, sendo a TV Record o principal deles. Parte do desinteresse ou falta de generosidade para tratar desse assunto se dá por uma disputa no âmbito da indústria da comunicação.

No livro, cito como a data dos 500 anos da reforma protestante foi anunciada no Jornal Nacional [em 2017]. Ele falam de Lutero, do Calvino, da fundação da primeira igreja protestante no Brasil, mostram uma celebração numa igreja protestante histórica, predominantemente branca no Rio de Janeiro, e os luteranos no Sul do país. Não entra um evangélico, como se o assunto não existisse. Sendo que a Assembleia de Deus, maior igreja evangélica do Brasil, foi fundada por missionários suecos batistas e eles se consideram protestantes.

Os evangélicos são mais conservadores do que o resto da população?

Sim e não. Se você pensar nos bolsões de prosperidade de pessoas que têm estudo superior, os evangélicos são realmente mais conservadores. Mas se você considerar o Brasil popular, há um senso de conservadorismo em relação a valores. Nos primeiros 400 anos do Brasil não dá para separá-lo do catolicismo, e um catolicismo conservador. Esse conjunto de valores em relação às pautas de gênero, sexual, LGBT, não é estritamente pentecostal, mas se desdobra no catolicismo e no espiritismo.

O grupo religioso que mais deu vantagem de votos a Bolsonaro na eleição de 2018 foi os evangélicos. Por que isso ocorreu?

Concordo com um argumento levantado pelo cientista político Mark Lilla, de Columbia, em que ele fala que o sucesso da eleição do [Donald] Trump se deu pela incapacidade da adversária naquele momento, a senadora Hillary Clinton, de conversar com diferentes.

No Brasil, de um lado você tem um governo que demonstra respeito pelos valores dessa população [evangélica]. E do outro lado tinha o outro candidato, Fernando Haddad. Não sou antipetista e não falo isso como crítica pessoal, mas ele cometeu um erro ao chamar o bispo Edir Macedo de charlatão. Havia mulheres da Igreja Universal batalhando dentro dos seus espaços de culto para defender candidato que era alternativa ao Bolsonaro que, com essa declaração, perderam essa possibilidade, pelo argumento de "como votar em alguém que nos desrespeita”.

A alternativa é entender mais sobre o assunto e fazer uma negociação na qual não se concordará em todos os pontos, mas não irá demonizar a pessoa. O fato de eu escrever um livro que é empático [aos evangélicos] não significa que eu concordo com a maior parte das questões que eles defendem em relação a questões morais, mas quero dizer que não é só isso que deva ser considerado.

Bolsonaro afirma que até o final de seu mandato nomeará um ministro ao Supremo que seja "terrivelmente evangélico”. Como o senhor interpreta essa fala?

Há uma ação oportunista do Bolsonaro para se aproximar de um grupo que é largamente desconhecido e rejeitado automaticamente pelo outro campo. O presidente sinaliza para esse grupo que, se as outras pessoas não se interessam por eles, ele sim se interessa.

A ministra da Mulher, Família, Direitos Humanos, Damares Alves, é uma das vozes radicais no governo na pauta moral. O quanto ela representa os evangélicos?

Há pessoas no meio evangélico simpáticas à ministra Damares, mas também há pessoas no meio evangélico simpáticas a pessoas como a [deputada federal pelo PT-RJ] Benedita da Silva e a Marina Silva, que são da Assembleia de Deus. Assim como a Damares, há outros evangélicos no governo que são repudiados ou motivo de vergonha para alguns grupos evangélicos.

Além disso, o ambiente na igreja evangélica é politizado, no sentido de questionar qual é o interesse do pastor quando ele traz tal pessoa, ou por que o pastor propõe algo ou está conversando com tal político. Foi aplicado um questionário em 2018 durante a Marcha para Jesus e um dos achados foi que a maior parte dos evangélicos ali não votava no candidato indicado pelo pelos líderes da igreja.

E a bancada evangélica, representa a diversidade do cristianismo evangélico? Há instrumentalização da religião para ampliar o poder político?

Ela é representativa de muitos evangélicos, conta com representantes de muitas outras igrejas. Mas a Marina Silva não fazia parte dessa bancada e é evangélica.

Isso não impede que se faça uma crítica justa à utilização de estruturas da igreja para ter uma presença cada vez maior dentro do Estado e, a partir dessa presença, impor visões que são diferentes das visões dos evangélicos. Até pouco tempo, o cristianismo evangélico, como herdeiro da tradição protestante, sempre foi defensor da liberdade de culto.

Neste momento há uma sobreposição de canais, em que as igrejas são instrumentalizadas para eleger pessoas que depois deixam de ter responsabilidade com seus eleitores, mas somente com os donos dessas igrejas. É uma questão séria, que precisa ser considerada enquanto se estabelece diálogo com os evangélicos comuns, e não esperar até a eleição para então fazer um acordo de conveniência com o dono de uma igreja, mas somente com os donos dessas igrejas. É uma questão séria, que precisa ser considerada enquanto se estabelece diálogo com os evangélicos comuns, e não esperar até a eleição para então fazer um acordo de conveniência com o dono de uma igreja.
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Fonte:https://www.ihu.unisinos.br/categorias/603625-igrejas-evangelicas-sao-estado-de-bem-estar-social-informal

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