11.06.2022
Do portal BRASIL247
Por Cesar Calejon
"O bolsonarismo enterrou, definitivamente, o projeto de desenvolvimento nacional e a já combalida soberania do estado brasileiro", escreve Cesar Calejon
No capitalismo, o controle da energia é um aspecto fulcral para toda a organização sistêmica. Ao longo do século XX, sobretudo, entre 1930 e 1980, período que marca o desenvolvimentismo brasileiro, diversos governos, mesmo os ditatoriais, entendiam a importância de manter empresas estratégicas sob o comando de um estado que fosse capaz de planejar e determinar prioridades e objetivos.
Com a privatização da Eletrobrás, que foi consumada ontem, o bolsonarismo enterrou, definitivamente, o projeto de desenvolvimento nacional e a já combalida soberania do estado brasileiro no que diz respeito a organizar o seu próprio futuro, consequentemente.
Agora, a Eletrobrás passa a ser controlada por fundos locais e internacionais e tem o grupo 3G e o Banco Clássico como os seus maiores acionistas privados. Evidentemente, a exemplo do que historicamente aconteceu com projetos desta ordem, a população brasileira, além de ficar à mercê de um estado incapaz de usar os seus recursos para melhorar a vida dos seus cidadãos, ainda deverá pagar mais caro pela energia visando o enriquecimento de grupos que já são bilionários. Enquanto isso, 106 milhões de brasileiros sobreviveram com apenas R$ 13,83 por dia em 2021, segundo o IBGE.
Além disso, existe outra correlação direta que pode ser estabelecida neste sentido: quanto mais à periferia do sistema capitalista global encontra-se determinado país, maior é a necessidade de se estabelecer um estado forte que consiga dar conta de tarefas estratégicas.
Os liberais tendem a classificar, pejorativamente, esse tipo de atuação estatal como “intervencionista”, avançando a ideia de que o “deus mercado” e a livre competição seriam capazes de organizar os melhores arranjos sociais. Invariavelmente, essas pessoas citam os Estados Unidos como exemplo e se esquecem – ou ignoram deliberadamente para avançar os seus interesses – que o regime estadunidense atua no cerne do capitalismo global, usurpando outras nações e impondo, muitas vezes por meio do uso da força, as suas determinações. Existe, o que na disciplina das Relações Internacionais, convencionou-se chamar de “role maker” (os países que estabelecem as regras do jogo) e “role taker” (os países que as acatam).
Sem um estado forte e sem o controle de empresas estratégicas, resta ao Brasil curvar-se às determinações que nos são impostas. Exatamente o que pretende o governo Bolsonaro.
Neste sentido, o próximo governo deverá fortalecer, rapidamente, a capacidade de intervenção estatal na economia brasileira. Uma boa ideia seria, conforme discutido com o economista Ladislau Dowbor no programa Literatura & Pensamento Crítico, organizar uma espécie de holding, que seria ligada à Presidência da República.
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Fonte: https://www.brasil247.com/blog/com-privatizacao-da-eletrobras-bolsonarismo-enterra-definitivamente-o-desenvolvimentismo-nacional-98kjcemu
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