24 outubro 2024

A andragogia e a aprendizagem do adulto

24.10.2024

Andragogia é uma ciência pouco conhecida e explorada, que trata da questão sobre como os adultos aprendem. De modo geral, a pedagogia e as pesquisas cognitivas são mais utilizadas na tarefa de explicar como as pessoas aprendem, com um foco maior na aprendizagem e desenvolvimento das crianças, como se a idade adulta fosse uma idade de estabilidades e aprendizagens consolidadas. No entanto, hoje sabemos que, tanto aprendizagem como desenvolvimento, ocorrem ao longo de toda a vida, possuem especificidades em cada fase humana e dependem de diversos fatores de diversas ordens.

Até a Revolução Industrial, as escolas eram pensadas predominantemente para as crianças. Com a crescente demanda por qualificação para o trabalho, houve necessidade de sistematizar princípios para uma “pedagogia” para adultos.

Notoriamente, ao longo do tempo, a aprendizagem de adultos ocorreu de forma não sistemática, marcada, principalmente, pelo desenvolvimento da comunicação e pela oralidade. De acordo com Puchner (2019), grande parte do conhecimento que chegou até os dias atuais perpassou pela oralidade, já que as formas de escrita e impressão desenvolveram-se tardiamente. Basta conhecer a história da escrita para verificar que a forma de educação como a conhecemos hoje, baseada em leitura e escrita, é bem recente, considerando a história da humanidade. Até por isso, a marca de diálogo e da oralidade é muito forte no modelo andragógico ou na educação de adultos até nos dias atuais. Esse modelo de educação baseado no diálogo existe desde a Grécia Antiga, quando Sócrates empregava a maiêutica, um modelo de conhecimento baseado na oralidade, em perguntas e respostas para se chegar ao conhecimento profundo.

Muitos pesquisadores contribuíram para a formação da andragogia, muitos deles da área da psicologia.

Lindeman (1926) propunha que a educação de adultos deveria se basear nas necessidades e interesses do mundo adulto, ou seja, englobar o trabalho, o lazer, a família, a comunidade, entre outros aspectos. Além do mais, esse autor percebe o descompasso das metodologias empregadas pela pedagogia e buscou novas formas para a educação de adultos. Em vista disto, o educador escreveu: “nós aprendemos aquilo que nós fazemos. A experiência é o livro-texto vivo do adulto aprendiz” (Lindeman, 1926, p. 8).

De acordo com Lindeman (1926, p. 9) a educação de adultos gira em torno de quatro grandes princípios:

A educação é vida, e não preparação para vida; a educação de adultos gira em torno de ideias não exclusivamente profissionais; o enfoque da educação de adultos será colocada no caminho das situações da vida e não em temas ou conteúdos; o recurso mais importante da educação de adultos, são as experiências de vida.

Seguidor de Lindeman, Malcom Knowles (1913–1997) aprofundou a ideia da experiência vivida como fonte de aprendizagem e publicou seu primeiro artigo em 1968, que tratava, especificamente, da educação de adultos, usando o termo “andragogia”. Para Knowles (1973), os motivos, as razões e as necessidades dos adultos eram completamente diferentes dos das primeiras etapas de vida, por isso diferenciou, a partir da etimologia da palavra de origem grega, os termos “andros (adulto) e gogos (educar), em contraposição à pedagogia que vem do grego paidós (criança) e gogos (educar), educar crianças” (Knowles, 1973, p. 42-43).

Quando Knowles começou a construir o modelo andragógico de educação, o concebeu como a antítese do modelo pedagógico, andragogia x pedagogia, apontando para a inadequação ideológica da pedagogia em lidar com adultos, propondo um modelo inovador e pragmático. Com o passar do tempo, Knowles (1980) atenuou as críticas ao modelo anteriormente antagônico, salientando que ambos podem ser utilizados com aprendentes de qualquer idade. Em vista disso, o autor realça que tudo depende das circunstâncias nas quais a aprendizagem ocorrerá.

De modo geral, o modelo andragógico proposto por Knowles (1973), ampliado do modelo de Lindeman, é amplamente divulgado e baseia-se nos seguintes princípios:

  1. Necessidade de aprender: adultos precisam saber por que necessitam aprender algo, antes de começar a aprendê-lo, e qual o ganho que terão no processo.

  2. Autoconceito do aprendiz: adultos são responsáveis por suas decisões e por suas próprias vidas, portanto, querem ser vistos e tratados, pelos outros, como capazes de fazer suas próprias escolhas.

  3. Papel das experiências: para o adulto, suas experiências são a base de seu aprendizado. Por terem vivido mais, eles acumularam mais experiência, o que acarreta consequências para a educação de adultos. As técnicas que aproveitam essa amplitude de diferenças individuais serão mais eficazes.

  4. Prontidão para aprender: o adulto fica disposto a aprender quando a ocasião exige algum tipo de aprendizagem relacionado a situações reais de seu dia a dia. Eles têm predisposição para aprender quando o conhecimento tem a finalidade de ajudá-los a enfrentar os desafios cotidianos. Assim, quando a ocasião exige algum tipo de aprendizagem relacionado ao que deve ser executado, o adulto adquire prontidão para aprender.

  5. Orientação para aprendizagem: os adultos aprendem melhor quando a aprendizagem é orientada para os fatos, aplicabilidade, utilidade e resultados. São motivados a aprender conforme percebem que a aprendizagem os ajudará a executar tarefas ou lidar com problemas que vivenciam em sua vida.

  6. Motivação: adultos são mais motivados a aprender por valores intrínsecos — autoestima, qualidade de vida, desenvolvimento. Respondem a fatores motivacionais externos (melhores empregos, promoções, salários mais altos), porém, os fatores motivacionais mais poderosos são as pressões internas (o desejo de ter maior satisfação no trabalho, autoestima, qualidade de vida).

Dadas as características da fase adulta, é preciso considerar que a experiência é a fonte mais rica para a aprendizagem desse grupo. Estes, por sua vez, são motivados a aprender conforme vivenciam necessidades e interesses que a aprendizagem satisfará em sua vida. Logo, os conhecimentos prévios, que muitos já adquiriram em sua vida, facilitam o processo de ensino-aprendizagem e reflexão, ao transformá-los em diálogos.

Assim, a aprendizagem do adulto vai sofrer influências e interferências, uma vez que o mundo que ele conhecia antes pode agora ser visto não apenas com os seus olhos, mas com suas interpretações e compreensões dos significados que cada um dá em seu viver, por isso que o processo de reflexão sobre a realidade toma outra dimensão, tornando o processo educativo do adulto muito mais crítico.

Também é atribuída a Knowles (1980) a ideia de que pessoas adultas aprendem mais facilmente em ambientes confortáveis, flexíveis, informais e livres de ameaças. Não há como negar que, quando o lugar e o clima são agradáveis e propícios para a aprendizagem, os resultados tornam-se mais significativos.

*Artigo escrito por:

Ana Maria Soek1 

Doutora em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná (PPGE/UFPR).

Sonia Maria Chaves Haracemiv1 

Pós-Doutorado em Currículo e Avaliação pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Doutora em Educação, Professora do Departamento de Teoria e Prática de Ensino pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e do Programa de Pós-Graduação em Educação.

Nota: Para ler o artigo na íntegra clique aqui

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