26 dezembro 2024

O papel subsidiário da epidemiologia no planejamento em saúde: da instrumentalidade à integração"

26.12.2024

Postado por Irineu Messias

Ao longo da evolução histórica do planejamento em saúde, desde a proposição do método Cendes-OPS (Centro de Estudos do Desenvolvimento - Organização Pan-Americana da Saúde) em 1965, até as discussões mais recentes no campo do pensamento estratégico, a epidemiologia tem ocupado uma posição subsidiária e essencialmente instrumental.

O método Cendes-OPS, desenvolvido na década de 1960, foi um marco importante na sistematização do planejamento em saúde na América Latina. Ele propunha uma abordagem normativa e econômica, baseada em um diagnóstico de saúde para definição de prioridades e alocação de recursos. Nesse contexto, a epidemiologia era utilizada principalmente para fornecer os dados necessários para a análise da situação de saúde e identificação dos problemas prioritários.

Com o avanço das discussões sobre planejamento em saúde e o surgimento de novas abordagens, como o planejamento estratégico situacional de Carlos Matus e o enfoque estratégico da Programação em Saúde da OPAS na década de 1980, a epidemiologia continuou tendo um papel de apoio. Ela contribuía com informações sobre o perfil epidemiológico, distribuição dos problemas de saúde e seus determinantes, subsidiando a formulação de estratégias e tomada de decisão.

Ser uma disciplina subsidiária e instrumental significa que a epidemiologia não é o foco central do planejamento em si, mas um campo de conhecimento que fornece insumos essenciais para o processo. Ela disponibiliza dados, análises e evidências que embasam o diagnóstico da situação de saúde, a definição de prioridades, o desenho de intervenções e a avaliação de resultados. Porém, a condução do planejamento, a definição de objetivos e a tomada de decisões estratégicas são guiadas por outras disciplinas e habilidades, como a análise política, a gestão e a negociação.

Essa posição subsidiária da epidemiologia no planejamento tem implicações importantes. Por um lado, reconhece-se a relevância do conhecimento epidemiológico para orientar as ações de saúde baseadas em evidências e responder às necessidades da população. Por outro, corre-se o risco de limitar a contribuição da epidemiologia a um papel meramente técnico e descritivo, sem um protagonismo na definição dos rumos e prioridades da política de saúde.

É fundamental que haja uma integração mais orgânica entre a epidemiologia e o planejamento em saúde, de modo que o conhecimento epidemiológico não seja apenas um insumo, mas parte constitutiva do processo de formulação e implementação das políticas. Isso requer um diálogo interdisciplinar, o fortalecimento da capacidade de análise e o uso da epidemiologia não apenas para descrever problemas, mas também para avaliar o impacto das intervenções e orientar a tomada de decisões estratégicas.

Em suma, a trajetória histórica do planejamento em saúde evidencia o papel subsidiário e instrumental da epidemiologia, que fornece conhecimentos essenciais para o processo, mas nem sempre ocupa um lugar central na definição dos rumos e prioridades. É necessário avançar em direção a uma integração mais efetiva entre epidemiologia e planejamento, valorizando a contribuição desta disciplina para a formulação de políticas de saúde equitativas e efetivas.

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